Miguel, cinco anos, despencou do 9º andar de edifício de luxo, em Recife. A mãe, Mirtes, não pôde protegê-lo: no térreo, cuidava do cachorro da patroa, Sari, que fazia as unhas.
Miguel quis ver a mãe, Sari o lançou no elevador, sozinho. O menino mergulhou para a morte. Afundou no abismo da desigualdade. Sucumbiu à negligência geral. Do Estado e da sociedade. Já não tinha mais escola.
Agora, não possui futuro. Sari foi solta após fiança. De frente para o mar, assistirá ao homicídio dormir nos tribunais. E Miguel nunca mais terá aniversário.
Nota do editor – Escrito em 6 de junho de 2020, quando da morte de Miguel Otávio, ao cair do 9º andar de um prédio de luxo no Recife, quatro dias antes. Sari Corte Real foi condenada pela Justiça de Pernambuco, em junho deste ano, a oito anos e seis meses de prisão por abandono de incapaz com resultado morte. No entanto, recorre em liberdade.
